segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

" Só um pedaço de papel colorido? "

LEMBRO-ME de certa vez quando dei uma palestra para a Força Aérea e que um velho e experiente oficial levantou-se e disse: “Não sei qual a utilidade disso tudo. No entanto, veja bem, eu também sou um homem religioso. Sei que há um Deus. Eu o senti quando estava sozinho, no deserto, à noite: um grande mistério. E esta é precisamente a razão por que eu não acredito nos seus dogmas e nas suas fórmulas reducionistas e bem comportadas sobre Deus. Para qualquer um que já o tenha encontrado, tudo isso parece tão mesquinho, pedante e irreal!”
De certa forma, até concordei com aquele homem. Penso que ele deve ter tido alguma experiência real com Deus no deserto. E quando ele voltou dessa experiência para os credos cristãos, acredito que ele voltou de algo real para algo menos real. Da mesma forma que uma pessoa que olha da praia para o oceano Atlântico e, depois, olha o Atlântico no mapa — ela também estará voltando de algo real para alguma coisa menos real: das ondas do mar para um pedaço de papel colorido. Porém, é aí que está o ponto. O mapa é reconhecidamente um pedaço de papel colorido, mas há duas coisas que você deve lembrar. Primeiro, ele é baseado no que milhares de pessoas descobriram navegando o Atlântico de verdade. Dessa forma, um indivíduo tem atrás de si milhares de experiências tão reais quanto a que você poderia ter tido da praia; com a diferença de que, enquanto a sua seria um vislumbre único, o mapa reúne todas as variadas experiências. Segundo, se você quer chegar a algum lugar, o mapa é absolutamente necessário. Para quem está apenas interessado em fazer algumas caminhadas na praia, a visão pessoal é muito mais agradável do que olhar para um mapa. Acontece que o mapa terá mais utilidade do que as caminhadas pela praia se você deseja chegar a outro continente.
Fonte: Retirada de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2009) -
 Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

" Quando a Lucidez abraça ! "


Querida Bráulia, graça e paz!

Li o texto Alexandre (Ultimato, edição setembro/outubro, 2009) e me comovi profundamente com a dor de vocês, tão simples e verdadeiramente expressa pela Bráulia. Você e eu já tivemos todas as chances de nos tornarmos mais próximos em razão de amigos comuns e de muitas identificações simples e práticas no Evangelho. Além disso, muitos já fizeram tudo para que isto acontecesse, mas as circunstâncias não permitiram; e a culpa é minha, não sua. Não posso dizer que leio o que você escreve, que pesquiso, que estou informado sobre você em detalhes... Sabia e soube de você mais pelo George Foster, pelo Pedro do Borel (hoje no Egito), pelo André Fernandes e pelo Tiago da Jocum em Brasília, do que por quaisquer outros meios. E todos me dão o mesmo testemunho; sim, falam-me da carta escrita com amor de Deus em seu coração para com todos os que passam em seu caminho.

Entretanto, amiga no Senhor, somente Jesus nunca foi levita e sacerdote na estrada, sendo sempre o samaritano. Sim, além dele, todos os demais somos samaritanos de vez em quando, e ficamos felizes com isso. Embora em nossa ignorância e distração não registremos a quantidade enorme de vezes em que passamos de largo fazendo da agenda da estrada [...] o caminho de nossa pressa, e não fazendo a estrada submeter-se ao caminho interior, ao invés de seguir o roteiro da estrada [...], todos os dias vejo-me escolhendo apressadamente as agendas da estrada enquanto negligencio a agenda do caminho. O levita e o sacerdote seguiram a estrada e seu “tempo”. O samaritano seguiu o seu caminho. A estrada, todavia, é apressada, diferentemente do caminho, que só segue quando tem a permissão da vida para passar. Graças a Deus somos perdoados todos os dias pelas escolhas da estrada contra as veredas calmas do caminho! Entretanto, o que desejo de coração dizer a você, publicamente, visto que seu texto é público, é que nem você e nem ele têm esse poder todo! Sim, vocês não têm o poder de saber nada além do que se tornou história com as configurações de “história” [...] de passado, portanto. Na noite que meu filho Lukas morreu atropelado saindo de uma festa com os irmãos, antes de ir ele me ligou e me disse que estava meio cansado, a fim de dormir, e que se fosse seria apenas pelos irmãos e porque lá haveria uma moçada da Igreja Presbiteriana Betânia que ele não via há muito tempo. “Vá meu filho! Vai ser legal! A Bruna está indo só por sua causa. E ela já saiu!”, foi o que eu disse; e ele foi. O interessante em tudo isto é que por uma certeza mais profunda do que a morte dele naquela noite, eu sabia que não fora a “minha força” que o pusera no chão daquela estrada fria de Itaipú. Havia um caminho naquela estrada que estava para além de mim. E certamente muito para além da própria estrada. Conheço a sensação de não atender a insistências que acabam de modo catastrófico. No curso da vida já deixei para visitar no dia seguinte muita gente que morreu durante a noite; já adiei idas que se confirmaram atrasadas depois dos fatos; já passei e soube que o “deixado” não resistiu; já sim, já muita coisa...

Sei também que o nível de pessoalidade do conhecimento do moço que se autovitimou aprofunda qualquer dor. Aumenta toda sensação de culpa e exacerba as perspectivas de responsabilidade e de omissão. Tais fatos, todavia, servem a nós de muitos modos quando o coração é como o de vocês. A gente aprende que todos estão a um passo de qualquer coisa.  A gente aprende que por vezes nem todos os esforços do mundo mudam determinadas realidades. A gente aprende que muita dor culposa que se sente decorre da culpa da bondade cristã salvadora, a qual assume para si poderes de salvação que não estão em nossas mãos. A gente aprende a discernir quais são as coisas que podem esperar ante um desespero e quais não podem.

A gente aprende que nem todo desespero tem que parar o nosso caminho também.

A gente aprende, sutilmente, o que é agenda da estrada e o que é agenda do caminho.

Mas ninguém aprende isso sem se sentir levita e sacerdote de vez em quando, posto que nossos atos samaritanos são emblemáticos, mas nossas omissões levíticas e sacerdotais são a regra na agitação de nossas inúmeras distrações. O pecado é adotar o caminho do levita e do sacerdote como modo de se desviar de gente na estrada. Ora, esse jamais foi ou será o caso de vocês, graças a Deus. Entretanto, o mesmo samaritano um dia deve ter tido seu dia de levita. Ou, então, ele seria “Ele”. E não era... Assim, minha oração é uma só nesse particular: “Senhor, faz de mim o samaritano possível no dia de hoje em minha existência! E salva-me dessa horrível tendência natural que tenho a, na estrada, preferir a omissão do caminho do levita e do sacerdote!”. Sim, pois o mais devotado dos samaritanos tem seus momentos de pressa de levita e de sacerdote. E mais: isto é assim para que todo ato samaritano de nossa vida seja pura glória e graça de Deus sobre nós; e não fruto de nossa certeza de que em nossa existência não existem omissões. Louvo a verdade de sua dor sincera e exposta de modo tão simples e franco.  Recomendo, no entanto, que essa dor se torne louvor àquele que amava o Alexandre, e que o ama e que o tem em seu seio, pois quem danou o Alexandre apenas por que a dor de sua perturbação mental o levou a um desatino? O Alexandre, sim, o do salmo, o que buscava consolação onde há consolação, era apenas um jovem em estado de perturbação adquirida pelo vício. Não era filho do inferno. Nenhum diabo teve o poder de tirar o Alexandre das mãos do Senhor Jesus! Assim como nenhum diabo tentará (e vencerá) vocês com a culpa de que poderiam ser os salvadores do Alexandre e não o foram. Manos amados, também isto está consumado! Recebam meu amor e meu carinho sincero e cheio de orações.

Nele, em quem nenhum de nós tem o poder de salvar, mas apenas o de cooperar com o Salvador, o qual salva com ou sem nós,

Caio


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Será que o meu sacrifício está vivo?

“ E Abrãao edificou um altar ... e amarrou Isaque, seu filho.” Gênesis 22.9
Esse incidente é uma figura do euívoco que cometemos ao pensar que o sacrifício supremo que D´us requer de nós é a morte. O que D´us quer é um sacrifício através da morte, o que nos capacita a fazer o que Jesus fez, ou seja, sacrificar nossa vida. Não se trata de “ eu quero morrer comtigo”, mas, “quero ser identificado com a Tua morte de modo que possa sacrificar minha vida a D´us”. Parece que pensamos que D´us quer que renunciemos as coisas!  D´us corrigiu esse conceito errado em Abrãao, e efetua a mesma correção em nossa vida Não há nenhum texo em que D´us  nos diga para que renunciemos as coisa apenas por renunciá-las. Ele nos diz que devemos renunciar a elas por amor do único bem que vale a pena ter – A VIDA COM ELE. E tudo uma questão de se “ soltarem as amarras” que tolhem nossa vida. Assim que isso acontece, pela identificação com a morte de Jesus, entramos em um relacionamento com D´us por meio do qual podemos oferecer nossa vida em sacrifício a Ele. De nada adianta a D´us você lhe dar a sua vida pela morte. Ele quer que você seja um sacrifício vivo, para que Ele possa dispor de todos os seus potenciais, agora salvos e santificados através de Jesus. Isso é que aceitável a D´us.

Fonte: Textos extraídos das conferências proferidas no Bible Training College, Clapham nos anos de  1911  a  1915. Estes textos foram reunidos em um livro de devocionais diário chamado “Tudo para Ele” – Oswald Chambers – Editora Betânia.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Entre Comunidades Enfermas e Indivíduos Doentes"

Precisamos abrir mão do mito da congregação cristã perfeita.
Cresce no Brasil o número daqueles que defendem a possibilidade do exercício da espiritualidade cristã sem vínculos formais com as chamadas igrejas. Tal tendência é cada vez mais encontrada em livros e na postura de pastores, lideres e artistas que não mais possuem compromisso efetivo com uma comunidade local. Para estes, as igrejas, tanto em sua expressão local como também institucional, deslocaram o foco do simples exercício da fé comunitária para a manutenção dos projetos personalistas de seus líderes ou demandas de suas denominações. Inúmeros casos e histórias são contados para justificar a acusação. Ao ouvi-los, somos levados a concluir: estas comunidades se encontram enfermas. O problema é o que fazer diante dessa situação. Simplesmente abortar a expressão comunitária da espiritualidade cristã seria a solução? Substituir a congregação formal por uma reunião semanal, quinzenal ou mensal, com pessoas à nossa imagem e semelhança, é a saída? Ou é mais válido viver à parte dos demais cristãos, alimentando a perigosa pretensão de que somente nós estamos saudáveis, enquanto todos os demais estão enfermos? Quando condicionamos nossa reflexão aos conceitos e princípios que nos são oferecidos na Palavra de Deus, teremos que admitir que, ao eliminarmos o engajamento comunitário de nossa prática espiritual, geramos apenas indivíduos doentes.
Nosso Deus, ao se revelar através da história da salvação, apresenta-se como um Deus comunitário. Ele é Pai, Filho e Espírito Santo. A trama da salvação é vivida por estas três pessoas, que pertencem a uma comunidade divina. Cada uma delas possui características próprias, porém fazem uso delas não na direção da autonomia, mas da interdependência, a qual constrói historicamente a redenção de todas as coisas. Da mesma forma, o Senhor nos criou como seres comunitários. Existe uma expressão do plano divino em nossas vidas que só pode ser desenvolvida através da vida em comum, com constância e compromisso. O perigo do isolamento é a construção de um projeto autônomo, no qual nossos pensamentos e características próprias tornam-se o parâmetro da verdade. Quando Deus escolheu e chamou Abraão, manifestou sua intenção em construir historicamente uma comunidade, na qual o alvo maior seria a mutualidade, o serviço. Além disso, o elemento unificador daquela comunidade não seriam as virtudes dos indivíduos que a formariam, mas a perfeição de seu criador e redentor, que por sua imensa graça une gente imperfeita e complexa. O reflexo dessa vida comunitária no Novo Testamento segue o mesmo padrão. Jesus escolhe e chama seus discípulos dentre homens complicados e inconsistentes, para fazer deles um grupo que tem como marca o amor e serviço mútuo. As dificuldades de um projeto dessa natureza se manifestaram desde cedo, e se intensificam ao longo da plantação das primeiras comunidades cristãs. Mesmo assim, a exortação do escritor bíblico é clara: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns” (Hebreus 10.25). Estão certos aqueles que acusam as igrejas de serem comunidades enfermas, já que Deus escolheu e chamou um pessoal complicado para formá-las. Tal constatação pode nos levar ao isolamento, o que até parece mais confortável. Mas também pode nos levar ao compromisso em aprender a celebrar as virtudes do outro e acolhê-lo em suas limitações, o que é mais saudável. Por outro lado, quem diz que os que vivem de forma autônoma e isolada adoecem também têm razão. O dilema, então, chega a ser shakespeareano: ser ou não ser parte de uma comunidade cristã? Primeiramente, precisamos admitir que não existe outro caminho para aprendermos a amar e a servir, expressando a marca maior daqueles que seguem a Jesus, se não nos engajarmos em relacionamentos duradouros e, consequentemente, na vida comunitária. Aqueles que não se submetem a esse processo desenvolvem uma individualidade imatura e doentia, passando a ter a si mesmos como referência, o que é a pior forma de idolatria. Em segundo lugar, precisamos buscar comunidades que correspondam aos critérios mínimos de higidez estabelecidos pelas Escrituras – e a maneira como a Palavra de Deus é ensinada, a forma como a liderança é exercida e o tipo de relacionamento que é incentivado entre seus membros são bons exemplos de elementos a serem observados Mas em terceiro e último lugar, precisamos também abrir mão do mito da comunidade cristã perfeita, que tem levado muita gente a acreditar que ela poderá ser estabelecida por eles mesmos, à sua imagem e semelhança. Todavia, será só uma questão de tempo para perceberem o problema ético e estético de tamanha pretensão. Acontece que comunidades cristãs possuem um fator distintivo: elas são formadas por pessoas imperfeitas, confusas e complicadas que têm como fator unificador não os seus méritos, mas as virtudes daquele que as chamou.
Cristianismo Hoje - Ricardo Agreste

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Que em 2011 você experimente: " A Subtração do que te faz morrer"


Desejo a você um novo ano com menos.
Menos ansiedade, menos inimizades,
menos coisas entulhando sua casa,
e menos compromissos que não acrescentam nada.

Menos hipocrisia, menos coisas no armário,
menos mágoas, menos enfermidade circulando no sangue,
menos dores de cabeça, menos traiçoeiras fantasias,
menos dúvidas sobre o que é fundamental.

Desejo a você um ano com menos.
Menos correria inútil,
menos culpa,
menos medo do futuro,
menos cumprimentos constrangidos,
menos coisas que se podem comprar,
menos dívidas, menos cobranças,
menos crítica, menos raiva,
menos vazio na alma.

Desejo a você a subtração do que faz morrer.

Desejo a você a presença incomparável do Cristo,
que nasceu, viveu, morreu e ressuscitou
para nos dar o perdão total, a vida eterna.

Tudo, menos o mal.


Fonte: "MENOS" de Jairo Larroza