sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

E O SERTÃO?


Como anda o nosso sertão nordestino? Vai bem. Afinal, está chovendo, e é disso que o sertão precisa. De chuva. Graças a Deus porque choveu!

Esta afirmação pode até alegrar a muitos que, acostumados a ver notícias ou documentários na televisão, enfatizando a seca, pensam que tudo o que o sertão precisa é de chuva. Quem dera! Isso me faz lembrar de um antigo ditado que diz que “aquilo que os olhos não vêem o coração não sente”. O que nós não vemos, por não estarmos lá ou por não nos interessarmos, é que existem problemas que exigem a intervenção de quem tem instrumentos para produzir uma transformação cultural, educacional, social e espiritual. A chuva é elemento importante, sem dúvida, mas, mesmo com ela, o sertanejo continua a sofrer. Ele luta longe dos olhos da maioria daqueles que poderiam ajudar. O sofrimento dos sertanejos vai muito além da necessidade de água para regar a terra e saciar a sede. Como diz o cantor e evangelista sertanejo Marcos André, “chuva que molha o chão, não vinga a semente do amor”. Para entendermos um pouco melhor essa questão, precisamos saber um pouco mais sobre o sertão.

Eis a extensão do nordeste. É a terceira maior região do país em tamanho, com um milhão e meio de quilômetros quadrados. Tem área três vezes maior que a Espanha, quatro vezes maior que o Japão, e setenta vezes maior que Israel. Possui a terceira maior densidade demográfica do país, com 28,7 habitantes por quilômetro quadrado. É composto por 9 estados, 1.787 municípios, sendo 59 as cidades principais. No nordeste, nasceu o Brasil, no século XVI, na cidade de Porto Seguro (BA).

Existem dois nordestes. Um, é o litorâneo, que compreende a zona da mata, na qual estão localizadas as grandes cidades e é onde há a maior densidade demográfica da região. É o nordeste do turismo e dos negócios. O outro é o nordeste do polígono das secas, onde predomina o sertão, a seca e suas conseqüências. É onde se encontram as pequenas cidades e as populações rurais que sobrevivem em minifúndios ou como quase-escravos de latifúndios. É o nordeste onde a miséria humana retrata, fielmente, a terrível vida das regiões menos favorecidas dos países em desenvolvimento. É o nordeste de um dos maiores índices de analfabetismo do ocidente e dos mais assustadores índices de subnutrição e mortalidade infantil.

Metade das crianças pobres do Brasil vivem no nordeste. A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) revelou que dos 3 milhões de crianças que completaram 1 ano de idade em 2006, 400 mil não possuíam registro de nascimento, e, portanto, não tiveram direito de possuir a uma identidade. Nesse mesmo ano, a média de mortalidade infantil para o Nordeste foi de 36,9 por mil nascidos vivos, sendo que Alagoas, Maranhão, Pernambuco e Paraíba apresentaram as mais altas taxas. Na Paraíba, a cada mil crianças nascidas vivas, 39,4 em cada mil morrem antes de completar seis anos de idade. Já em estados da Região Sul, o número de mortalidade apresentados é em torno de 18,3 por mil. De acordo com o relatório da UNICEF, os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento integral do ser humano. Com relação ao índice de analfabetismo, a taxa nessa região é de 12,5%, quase o dobro em relação ao resto do país, que é de 2,6%. Quanto ao saneamento básico, o Nordeste tem o menor percentual de saneamento, água encanada e energia elétrica do Brasil. Em contrapartida, essa região tem o maior número de moradores por cômodos em uma moradia!

Para acrescentar à triste realidade do nosso nordeste, ele também é o primeiro colocado quando o assunto é o trabalho e a prostituição infantil, o desemprego e o elevado índice de trabalhadores sem carteira assinada que recebem menos de um salário mínimo.

No aspecto espiritual, são mais de 340 municípios não alcançados pelo evangelho, ou seja, com menos de 1% de evangélicos. O mais grave é que esse pequeno percentual, quando existe em algum município, está concentrado na zona urbana. Se considerarmos que cada município tem uma média de três povoados ou distritos, podemos afirmar que, no nordeste, temos uma média de 5.361 povoados. Há algumas perguntas elementares que podemos fazer. Se nos maiores estados do nordeste existem igrejas centenárias, como se justifica a existência de tantos municípios ainda não alcançados pelo evangelho? Se, entre Pernambuco, Paraíba e Bahia, temos, seguramente, mais de vinte escolas teológicas de nível médio e superior, como se justifica a existência de tantos municípios ainda não alcançados pelo evangelho? Quantos dos formandos dessas escolas saem a cada ano para, verdadeiramente, plantar novas igrejas em alguma região carente do evangelho no sertão? São quarenta e três milhões de pessoas que ainda não conhecem a graça de Deus e sofrem, não só por causa da falta de chuva, mas, principalmente, pela secura espiritual. Podemos classificar o Brasil como país alcançado pelo Evangelho e não classificar o nordeste como campo missionário? Quando estamos em uma vila rural do sertão e começa a chover, vemos, imediatamente, a alegria do povo ao saber que terão água para beber, visto que a água da chuva é a melhor que se pode encontrar nesses locais. Porém, a dona de casa ou a criança continuarão indo ao açude para tirar a água e levá-la para casa. Essa chuva também não retira dos homens do sertão os espíritos de trevas que destroem suas vidas, nem tampouco melhora a situação das crianças que anseiam por famílias mais afetivas, pais mais presentes e sensíveis às suas necessidades. A qualidade de vida da maioria das famílias sertanejas é baixa. A quantidade de crianças que sofre violência doméstica, principalmente na zona rural, impressiona e isso acontece longe dos organismos de defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Para compor os dados estatísticos que você leu acima, eu consultei alguns sites e também uma amiga para atualizar minhas informações. Ela me disse que, embora parecesse que os dados estavam desatualizados, na verdade, as mudanças no sertão, principalmente às ligadas à evangelização, são tão lentas que, depois de uma década, quase nada se alterou. Fiquei alarmado! Parei para pensar por alguns instantes. Meu Deus! Dificilmente empreenderemos uma mudança profunda em uma ou duas gerações. Nós vamos morrer e nossos filhos também, e muito pouco terá mudado para aquele povo sofrido.

Certo dia, eu estava falando a um grupo sobre essa realidade com entusiasmo, mas percebi a expressão de espanto e desdém de algumas pessoas. Na primeira pausa que fiz, fui interrompido por alguém influente desse grupo que, então, exclamou: “Mas nem todos serão missionários!”. Também já ouvi algo como, “se todos forem (para o campo) quem vai contribuir?” Esse tipo de pensamento me espanta. Faz parecer que estamos fazendo muito e que toda a Igreja está poderosamente mobilizada para a transformação das comunidades carentes do Brasil e do mundo. Soa como se, em cada congregação, houvesse algumas dezenas de pessoas empenhadas em colaborar de alguma forma. Mas não há.
Muitos até se compadecem, mas empacam quando não sabem onde ou como contribuir. Outros apelam para a desculpa de que estão fazendo alguma outra obra. Isso me deixa preocupado. Porque, enquanto arrazoamos e racionalizamos o problema, o desafio continua crescendo. E ainda nem tocamos no assunto alarmante da idolatria desenfreada do povo nordestino, que muitas vezes nem entende a fé que professa.
Um dia, eu pensei que não havia nada para eu fazer. Também não entendia como poderia ajudar. Mas, quando decidi que era minha responsabilidade, encontrei um meio. Marcos Witt cantou: “¿Si no lo hago yo, entonces quién lo hará, si no me levanto yo, quién se levantará?” Se eu não fizer, então quem fará, se eu não me levantar, quem se levantará?

O sertão espera pela resposta.
Por:  Adriel Barbosa  Adriel_barbosa@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se tenta...dando pé a gente põe!